Nem sempre o chamado “Dia das Bruxas” teve o formato que conhecemos hoje, cheio de abóboras, fantasias assustadoras e busca por doces. A origem do Halloween, embora comumente associada a rituais pagãos, é bem mais complexa e misturada com tradições cristãs. Uma das teorias mais aceitas aponta que essa festividade deriva da celebração cristã conhecida como All Hallows’ Eve, a véspera do Dia de Todos os Santos. Celebrada no dia 31 de outubro, essa data marcava a preparação espiritual para o dia 1º de novembro, quando a Igreja honrava todos os santos e mártires. Essa versão da história é frequentemente ignorada ou distorcida, já que as interpretações populares geralmente focam em ligações com antigas práticas celtas, como o festival de Samhain, sem evidências concretas que suportem tal afirmação.
Ao longo dos séculos, o Halloween passou por adaptações culturais, principalmente nos Estados Unidos, onde a festa se transformou em um evento comercial e familiar. É curioso notar que muitos dos elementos que hoje associamos ao Halloween, como as fantasias de monstros e as decorações assustadoras, são adições modernas, popularizadas pelo cinema e pela mídia, já que, de início, as fantasias eram associadas à memória daqueles que morreram pelo cristianismo. A tradição de esculpir abóboras, por exemplo, só ganhou destaque a partir do século XIX, muito depois de a festa já ter sido celebrada em sua forma original. No entanto, no Brasil, essa data chegou com um tom de desconfiança, especialmente por parte de grupos religiosos, que veem a festa como uma celebração de figuras demoníacas, ignorando sua origem cristã.
É importante observar que a ideia de que o Halloween sempre esteve ligado a rituais pagãos é uma visão romantizada e incorreta. Alguns historiadores, como Ronald Hutton, argumentam que não há registros significativos que liguem diretamente o festival celta de Samhain ao Halloween moderno. Samhain era uma celebração menor e já havia caído em desuso quando o Halloween começou a se formar como uma festividade cristã na Idade Média. Muito do que hoje se associa ao Halloween, como fantasias de bruxas, esqueletos e fantasmas, só começou a fazer parte da celebração nos últimos 500 anos, impulsionado pela cultura norte-americana.
Apesar dessa transformação ao longo do tempo, a percepção do Halloween varia bastante de acordo com o contexto cultural de cada país. Nos Estados Unidos, a festa é vista como um momento de diversão, onde as crianças se fantasiam e saem em busca de doces. Algumas igrejas, inclusive, incentivam os pequenos a se vestirem de santos, reforçando a conexão religiosa original da data. Já no Brasil, o Halloween enfrenta resistência, sendo interpretado por muitos como algo alheio à cultura nacional e, em alguns casos, até como um evento negativo. Esse contraste entre os países destaca como a festa pode ter significados diferentes dependendo da sociedade onde é celebrada.
No final das contas, entender que o Halloween nem sempre foi uma celebração pagã e que suas raízes cristãs são profundas pode ajudar a desmistificar muitos mitos em torno da data. Ao invés de se prender a noções equivocadas, vale a pena investigar as verdadeiras origens dessa festividade, que, ao longo dos séculos, se moldou conforme as necessidades e tradições culturais de cada época. O Halloween pode ser tanto uma festa de reverência religiosa quanto um evento de pura diversão, dependendo de como é enxergado e celebrado, o que reforça a importância de conhecer e respeitar a diversidade de interpretações em torno dessa data.
Este texto é baseado no vídeo: HALLOWEEN É PECADO? TE ENGANARAM ESSE TEMPO TODO! – YouTube do Canal Dois Dedos de Teologia (www.youtube.com/@doisdedosdeteologia).
Por Cyssu Pantaleão